sexta-feira, 29 de junho de 2007

A omissão da mídia e a frieza “jornalística”



Este caso ocorreu em Carapina, grande Vitória, no dia 20/03 de 2007 e foi o primeiro homicídio que cobri como fotojornalista do jornal, A Tribuna.

Mais um jovem de 20 anos morto, por envolvimento com drogas na região.

Quando recebemos a notícia no carro, para seguirmos para o local do crime, ouvi a repórter lamentar o fato do homicídio ter acontecido com uma pessoa pobre. Pelo fato que isto não dá notícia e realmente não deu. Pelo menos por parte do jornal, não teve nenhum respeito. Por se tratar de um caso comum já banalizado em nosso cotidiano.

Acontece que a lamentação da repórter, apesar de ter me chocado, não aconteceu uma única vez, pude vivenciar o caso com outra repórter um tempo depois, em situação semelhante.

Chegando ao local, fui de encontro à mãe da vítima M. N., 40, que se encontrava rodeada pelos vizinhos e em estado de choque. Fui de encontro ao corpo e registrei o fato. Fotografei a situação da mãe, com o intuito de mostrar que esses jovens, tidos pela maior parte da sociedade, como marginais que merecem a morte, também tem família e que suas mães sofrem as conseqüências dessa sociedade injusta e estão sofrendo todos os dias. Ao fotografar essa mãe desejei que a sociedade voltasse os olhos para ela e se comovesse com a sua situação que representa a situação de muitas outras mães.

Comover-se não é apenas chorar por ela ou rezar, mas pensarmos juntos, em como podemos lutar para mudar este quadro. Pois, se é para mostrar a desgraça alheia, que esta exibição não seja consumida como um filme de terror e sim que sirva como reflexão e estopim para mudanças efetivas. Para cobrarmos das autoridades nossos direitos. O direito a cidadania, a educação, saúde, empregos. Para que nossos jovens tenham opção de escolha.

O depoimento da mãe foi ouvido e confirmou o envolvimento do filho com as drogas, falou de sua dor e nada mais. Nada mais tinha a dizer. E a justiça? Onde está nestas localidades? Isto não pode continuar assim.

O fato nem saiu no jornal e a foto ficou comigo, para que eu pudesse publicá-la agora em nome de todas as mães que perdem seus filhos, neste mundo de hipocrisias.

Répúdio à mídia e à alienação

Vitória, sexta-feira, 29/06/2007.

Nem sei como falar sobre o que já está sendo por tantas vezes dito. Contudo, por saber que muitos sabem e por saber que mesmo sabendo ainda fingem não saber, deixo aqui o meu repúdio à apatia social, que deixa a mídia ser como é e que a sustenta. A mídia assim como a política, é reflexo de nossa sociedade. Marcada pelo ódio mal direcionado alienado.

Deixo o meu repúdio áqueles que amam e veneram a alienação, que foram paridos por ela e não conseguem se desvencilhar da barra da saia desta mãe desnaturada. Do mau do capitalismo. Meu repúdio aos consumistas inveterados, aos play boys e burgueses, aos pobres de espírito. Aos que consomem a cultura lixo das rádios, jornais e revistas de fofoca, que não ajudam em nada. Pois quem consome a burrice a alimenta e é cúmplice de toda essa impunidade.

Despejarei aqui todo o meu ódio sobre a mídia, aos maus políticos que muitos de nós somos a cada dia, à apatia social.

Deixo o meu repúdio não só aos donos da mídia, mas à todos aqueles que se vendem à ela, que a servem, que não enxergam que precisam lutar pelos seus direitos em busca de uma sociedade mais justa.

Trabalhei no jornal A Tribuna de Vitória, no Espírito Santo e posso, com base em minha vivência de determinados fatos deixar aqui a minha opinião à respeito.

Será preciso contudo, escrever inúmeras páginas à respeito começarei pelo mais “quente”, a exploração da violência por parte da mídia.

O mundo está violento, está uma merda, as pessoas se matando a todo tempo, em 45 dias de operação da polícia militar, no Rio cerca de 45 pessoas já foram mortas, dentre elas crianças, jovens e pessoas inocentes. Até quando???????!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Deixo aqui o meu repúdio a todos aqueles que por desconhecerem a realidade dessas localidades, acreditam que a polícia está fazendo um belo papel e não entendem a raiz do problema.

As tropas brasileiras invadiram o Haiti há três anos e estão fazendo o mesmo que a polícia militar nos morros do Rio e poucos sabem os verdadeiros motivos a que vendemos nossos alienados soldados.

O que nós estamos falando a esse respeito? O que a mídia está dizendo? Não estamos conseguindo mudar nada!!

A mídia não cumpre o seu papel, pois a mídia, assim como os comandantes da PM, do exército e das elites defendem apenas os interesses da minoria, que se acha privilegiada, mas que já sente as ameaças do sistema exploratório que está levando à miséria e ao desespero grande parte da população nacional.

De que lado nós estamos?????????????
Vocês repórteres e fotojornalistas, de que lado estão?
Quando ao fotografarem um morto, a sua foto não sai, pois são tantos os mortos, que já não vendem mais jornal? Mas tem sempre lugar para uma loira burra nas capas. (e isto em especial para o jornal A Tribuna do ES). Cadê a família desses mortos? Cadê a voz desse povo que não se houve na mídia?

Precisamos sim ouvir mais uma vez qual é a verdadeira raiz do problema até que paremos e pensemos juntos maneiras de resolvê-lo.

Só ouvimos as vozes da polícia, dos generais e das “autoridades”.

SOU DO POVO! QUERO OUVIR A NOSSA VOZ NOS JORNAIS, REVISTAS, CANAIS DE TV, RÁDIOS.

Quero ter um espaço para declarar o meu repúdio às operações genocidas e convocar meus semelhantes para tomarmos providências contra isso pois isso não pode continuar assim.

O espaço da internet é pouco, quero as rádios, as praças, os palanques, para gritar a todos que saiam dos shoping centers, parem de pensar um pouco em si mesmos e olhem para o que está acontecendo à volta, para mudar.

Estarei colocando em meu blog uma série de críticas à mídia, e aos meus colegas repórteres, colocando algumas das experiências que vivenciei quando fotografava e denunciando o que deveria ser feito, mas não é. Denunciando a mídia que assim como a justiça nacional, abraça a impunidade neste país.

A maior parte dos repórteres não são vítimas são cúmplices, carrascos e algozes. Em sua maioria perdem a sensibilidade e a o amor próprio. Se vendem e se alienam, são como os PMs e soldados. Executam e são treinados pelas universidades brasileiras a não mudar nada, sem bases sociológicas e éticas. Sem porra nenhuma! Tecnicismo não muda nada para melhor.