sábado, 30 de junho de 2007

Carta crítica a um amigo pequeno-burgues II

Meu caro amigo, estive pensando em sua fala e me inspirei para mais um texto, não me leve à mal. Respeito a diversidade, mas preciso defender meus argumentos.

Você acredita que a universidade federal é e deve continuar sendo uma pequena instituição burguesa no país. Inclusive enfatizou que deve ser para “bons burgueses”. Lamento mas não posso concordar com você. Primeiro que não acredito em “bons burgueses” depois que acredito num país mais justo, que dê oportunidades para que todos que os desejam, tenham acesso às universidades públicas e de qualidade. Este texto vai render algumas páginas e talvez eu nem dê conta de tantos argumentos à favor.

As universidades, assim como a maior parte das escolas, necessitam de mudanças que as tragam mais para a prática, mudanças que tenham como premissa a atuação e contribuição do estudante como cidadão ciente de sua responsabilidade social. Acredito que a ampliação de vagas em universidades com tal característica, ao invés de ficar no campo da teoria, ampliaria também o número de pessoas atuantes para pensarem soluções e colocarem-nas em prática.

As universidades não mudam quase nada em nosso país, pois temos um número reduzido de burgueses que as ocupa. E burgueses não precisam reinvindicar a melhoria dos laboratórios de informática pois têm computadores em casa, nem a qualidade dos restaurantes universitários pois, podem pagar para comer do lado de fora, nem de moradia, pois podem dividir apartamentos nos bairros universitários burgueses e por ai vai. Se eles não precisam reivindicar estas melhorias a universidade vai sendo sucateada e privatizada pouco-a-pouco pois os estudantes não precisam de uma estrutura se eles podem pagar por ela.

Aliás, esse perfil de estudante das universidades federais não precisavam nem estar ocupando essas vaga, já que pensam ter uma condição muito boa de vida, que o mundo deles está ótimo e por isso não precisam mudar nada mesmo.

A ampliação de vagas contribuiria para o aumento da diversidade cultural na universidade e vem de encontro com o texto que escrevi em defesa da moradia estudantil (http://quasarte.blogspot.com/2007/06/uma-defesa-moradia-estudantil.html).

Concordo que estudantes que trabalham o dia inteiro não têm possibilidades de pesquisar, contudo, se a universidade fosse um espaço de trabalho e pesquisa o problema estaria resolvido, não acha. Temos pouco emprego, mas muito trabalho a ser feito neste país e uma vez garantida a vaga numa universidade pública cada aluno tem a obrigação de prestar serviços à comunidade, que estejam diretamente relacionados com as suas pesquisas, senão para que serve a universidade? Só para dar despesa aos cofres públicos?

Outro detalhe, se o salário mínimo sofresse uma valorização justa, não precisaríamos de tantas vagas assim, uma vez que a maior parte das pessoas não tem paciência para livros e pesquisas. Ver exemplo da Itália.

Todos querem comprar um papel, porque neste país miserável quem não tem papel nem como gente é visto. A super-valorização do diploma em detrimento do trabalho, causa inúmeros danos à nossa sociedade, inclusive danos de identidade. Quantas vezes ouvimos um trabalhador dizendo que precisa estudar para ser “alguém” na vida? Por que o médico e o advogado tem que ganhar mais que o lixeiro e o professor se todos são importantes? Porque supervalorizamos os estudos teóricos em detrimento do conhecimento adquirido com a prática? Todo profissional pode e deve ter acesso a conhecimentos abrangentes relacionados com a sua área de trabalho. Por que o salário mínimo de um professor para ser justo, precisa ser no mínimo R$1500, e o de um trocador de ônibus pode ser R$380,? O diploma não pode continuar justificando a exploração alheia. Salário mínimo igual ao nosso, NINGUÉM MERECE!

Crítica aos pequeno-burgueses


Engraçado como ninguém quer receber um salário mínimo. Mas na hora de pagar muitos entram num consenso geral. Já está provado que, viver com R$380, não dá. Contudo, quando sua casa fica suja, você concorda em pagar esta quantia para a dona Maria lavar, passar, cozinhar e cuidar de seus filhos mimados e ainda pensa que a está ajudando! Que massada heim?!
Em países europeus onde o salário mínimo não é a miséria que é em nosso país, as casas são limpas pelos seus próprios donos ou na pior das hipóteses, “adotam” um latino-americano para fazê-lo.
Pagar um salário mínimo é ser cúmplice da exploração. Se você não pode pagar mais que R$900, (por no máximo 5 horas de trabalho) então cuide de sua casa você mesmo e pare de fazer esse papelão!